terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tom Waits.

Ela olhava pro lado e da janela do ônibus entrava lixo e poeira. Cachorros loucos correndo com medo do escuro," Heart attack and vine".
-Não vemos nada! Ela disse, com medo de cair no mundo, despencar daquele ônibus, as imagens embasadas de gotas, são moveis e coloridas. O que tudo aquilo vai valer a pena? As cores assustadas nos seus olhos não querem mais saber de nada.
- Me dá um bombom, por favor, senhora.
- Não, um café seria melhor.
O café quente queimava sua boca e o cigarro lhe deixava rouca. O susto fez com que jogasse tudo no chão, o pé ficou todo vermelho e a blusa branca com manchinhas singelas cheirando a café. As moscas fizeram pista de pouso naquele pé melequento. O café fez lembrar um sitio ensolarado e uma arvore imensa tampando a luz e... O barulho da cadeira sendo arredada e os óculos caindo de cima da mesa.
Ele falava baixo, mas, discursava, porque "apenas falar" é coisa para os fracos, teses sobre os sentimentais pós-contemporâneos. Ele preferiria que tudo sumisse e segurar no pé dela, lamber o café da maneira mais nojenta, separando dedinho por dedinho e chupando as unhas pretas era o que mais desejava naquele momento.
Eles acreditavam na arte, arte como "cobridor" de olhos e mente, a arte para tomar partido, acreditavam na arte pão doce, a arte pela arte, a arte para comer. E sentados naquele horizonte de rios imensos, sentiam dores no peito e cosquinhas na alma, "Temptation".
Caiam raios daquele cobertor molhado de suor que a cobria. Os raios são espelhados e produzem som de coisa cortante, um som de guitarra, preta fender comprada no ultimo yard sale do Broklyn. Ele a assustou por vontade de lambê-la, o gosto de carne de porco e goiabada vindo do almoço lhe fez extremamente feliz.
A dança continua, agora com outro enquadramento, "Get behind the mule", a caixinha de som é jogada aparecendo às rachaduras nos calcanhares daqueles pés feios que se balançavam nervosamente e o som ficando abafado, "Fannin street", cigarro vermelho e formigas lhe acompanhavam junto com um sol dolorido.
"Dirt in the ground", o mato dava coceira, e o som entrava cada vez mais fundo... A rigidez era inebriante e completa. Saído, os matinhos pregados na pretidão do vestido preferido, emprestado de uma tia que achava que ela não se vestia bem. Mochila pesada e sensações, muitas, "Falling down", no final um sax enrrabado e uma bateria apressada e louca.