sábado, 3 de julho de 2010

Ah... Por favor né?

A moça da quitanda fica com medo, sente o “cano” nas costas e ouve um tiro no fundo da alma. Do outro lado da cidade um jovem triste corta as veiazinhas já mortas de tristeza, na zona norte uma velinha é atropelada por um caminhão, um traficante roda repassando farinha na rua margarida. Maria tem certeza que naquela cozinha ela é à única que existe, o resto está fora de ordem, fora de todos os lugares, Maria olha os azulejos sujos e percebe que perdeu toda a sorte,sente medo de se levantar, tem vergonha de se arrastar e não tem mais voz pra gritar, Maria ó Maria. Consegue colocar um moletom preto de listras e sai. Pede cigarros pra senhora no condomínio, uma senhora estranha que fica se balançando na rede, em um lugar improvável de morar. A senhora ouve uma música triste, um bolero meio brega que se ouvia naquela época e deixa Maria mais triste ainda, se imagina no mesmo sonho da senhora, dançando naquele baile de toda quarta feira. Continua andando e se irrita com o sol, ela só queria um sorriso naquele momento. Era tão besta essa Maria. Bobinha! Ela nunca vai ser como as luzes, como conseguir acreditar, um riff de guitarra bastou. Maria ouve música e acha que é pra ela, quer andar sem destino, imitar aqueles filmes dramáticos que costumam passar na SBT, quer se fazer de vitima, e ainda nem sabe direito o motivo, deve ser por aquele amor que não deu certo ou pela crise existencial, amizades? Serão amizades? É... Sempre sentiu certo problema em se fazer entender e cativar pessoas, criar grupos era o mais complicado, sempre encontrava aqueles estranhos metaleiros que curtiam uns papos medievais e por necessidade ficava perto. Ela foi dispensada! Ele não sentia mais tesão, enfim... Foi comer outra, mas quem era ele mesmo? Um Thiago ou Felipe apareciam desses, sua bunda os atraia, Maria abria as pernas e só, curtia sentir o prazer. O que deu nela? Qual seria a causa da moleza de alma? Uma musica triste “from Radiohead”? Uma conta vencida e a contestação da falta de dinheiro, o I em uma matéria mais do que ridícula num curso que ela agüentava sabe se lá por quê? A roda gigante ter falhado no auge dos seus 10 anos? Sem surpresas se cansou de esperar, continuou fazendo as mesmas coisas e sua volta no quarteirão da lamentação tinha acabado. Estava de volta a casa, e continuava a limpar o azulejo da cozinha com suas dores nas costas usuais e ouvindo O “Bleach” muito alto.

2 comentários:

  1. Engraçado.
    Eu estava ontem mesmo pensando que essa "volta dos anos 90" era inevitável. Estava pensando em como eu mesmo iria perceber isso, quando isso SERIA inevitável.
    Adoro inevitabilidades: são inevitáveis.
    Alguém com dores nas costas, usando bleach nas paredes para limpá-las e ouvindo o alvejante - ou o contrário, que diferença faz? - me fez perceber que é, isso é cool, e é legal, porque é inevitável.
    Gostei.
    Mesmo porque me fez lembrar de um trecho de Kurt: "We could plant a house, we could build a tree".
    Sei lá.
    Foi inevitável.
    Valeu a visita à minha casa suja, Luah.
    De vez em quando, tem festa lá. convide mais gente.
    http://para-grafos.blogspot.com

    ResponderExcluir