segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Toda palavra é como uma mácula desnecessária no silêncio e no nada."

Depois de um tempo no mercado negro, voltei e abri, o que logo de cara não me parecia assim grande coisa, me vesti de rato ou de gato ou até cachorro ou porco e consegui entender a obra prima que estava na minha frente, escancarada, me deixando muda. Spiegelman vomitou o seu “Maus”, com tudo que foi despejado nele por anos, e pela primeira vez em um quadrinho me senti como o seu escritor, somos espectadores assim como ele, estamos vendo tudo de cima, mas com toda a angustia e culpa que não aparece assim tão fácil em outros contos autobiográficos, e que só pode ser comparado a um Eisner em seu “Contrato com Deus”. A sua critica política é pelo simples fato de estar dentro daquilo tudo de alguma forma, e a faz com a sutileza budista dos monges da Somália( onde provavelmente não tem monges), usando o silêncio e os sentidos visuais para fazer a grande pergunta mais famosa pós II guerra mundial: “Somos realmente todos humanos?”. Quem são as vitimas? O que elas sentiam? A verdade é que todos sentimos o mesmo, todos poderíamos ter sido soldados alemães matando judeus em campos de concentração, o que nos fez não fazer isso? Judeus compartilhando do mesmo racismo daqueles que os dizimaram, essa discussão acaba sendo de tão clichê a mais vanguardista possível. Parece teatro do absurdo, não consegues entender o que é de verdade naquilo tudo, a cada capitulo o sentimento de impotência te domina, o jogo com teus defeitos te assusta e a admiração pela arte seqüencial te arremata como um bode. Acabo em um sonho feito de luz e sombra onde vejo todos dançando, como um musical de pouca qualidade, cantando “Ce plane pour moi” do sonic youth, se matando como se tudo aquilo fosse o mais natural possível e fizessem isso rindo, ficando satisfeitos e felizes como se comessem chocolates.

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