domingo, 18 de janeiro de 2009

Ela não fuma mais

- Eu não agüento mais... Ouvia-se a sirene bem longe em um quarto escuro, só se conseguia ouvir a voz rouca e arrastada, repetindo sua ladainha. Com sua mão seguia a sombra do corpo, e seus pés, com aquele amontoado de sujeira, acompanhavam-nas em um balé misterioso e silencioso. Sombras feitas por um feixe de luz que atravessava a imensidão iluminada... A luz se sentia sozinha, ela que provinha de uma família de luzes neon, que costumam ocupar o espaço de diversão para adultos em frente. Unhas pintadas em um tom desconhecido, talvez vermelho, estava tudo muito sujo, negro! Sentíamos negro por todo canto e uma nudez pura. As mãos entravam em profundos, sentiam a escuridão prazerosa. Pêlos eram poucos ao se comparar com outros mamíferos que conhecemos talvez as arranque com a mesma força que entra, em seu pérfido ser. Suas lamúrias grotescas se tornavam menos febris e doentis, seu prazer em fuder-se os deixavam diferentes. Ela sempre ouvia risos e gritos e então parava, não podia continuar, não podia sentir gozo. Aqueles gritos a apavorava, as risadas a intimidava - O que deve ser tão engraçado?- Gritava sem nenhum som. Travava discursos sobre respeito, dor, amor, tudo endereçado aos “gritos”, eram ensaiados todos os dias, quando acabavam traziam um gosto azedo de impotência e covardia da qual não se livrava tão rápido, eles permaneciam sempre na terceira margem do rio, e nunca atravessariam.
Seu pêlo ralo, negro, grosso, arredio, se arrepiava freneticamente respeitando...Seus ossos se contraiam, em sua pele a presença dos “gritos” era evidente, marcas incuráveis, em seu cheiro se misturava gozo, com perfumes baratos que eram comprados em um descuido de ilusão, mostrava o medo, seu mau-humor que se assemelharia a uma grande e terrível simpatia se fosse comparada ao de uma pessoa descuidada. Levantava-se, depois que tudo tinha sido interrompido, e rindo chorava desesperadamente a morte de sua comodidade, da naturalidade, da ausência, do calor, sua falta de infância de não se dispor, da distração..."Ora vai mulher a quantos você pertencia...". Com seu sorriso rebolava, por entre ruas, postes e esquinas, com seu jeito debochado se insinuava e deixava que a vasculhassem toda, com a característica de não senti nada, se fudia muito melhor que qualquer um, a diversão era notar a diferença, notar o quanto se amava, sentia prazer em ser “auto” em ser só dela... "You don't know meBet you'll never get to know meYou don't know me at allFeel so lonelyThe world is spinning round slowlyThere's nothing you can show meFrom behind the wall...". Está parada, seus olhos fundos mostram a dor uma tinta desbotada onde sai a umidez de sua alma. Seu sofá bem velho era o que tinha em um quarto, a noite, recortes fantasiosos na parede, um banheiro onde sua merda, por falta de água, boiava, e a confundia com seus proprios barquinhos.
Depois de toda lambuzada, parava nua e perseguia sombras antes de sair para perseguir bem menos. A sua rotina era pontuada com eles, “gritos”. Ela sabia, sabia que um dia eles a matariam, então, para não ouvir saia, por dinheiro? Sim também, mas o motivo era mesmo tentar achar um modo de ser superior a eles que a preenchiam de maneira podre, como uma almofada de estrume.
Quando voltava seu leite estava derramado na mesa, e sua toalha cheirava a sangue, comia o que podia, ultimamente só comia depois de comida, e se divertia, sorria cada vez mais com viagens por latrinas desconhecidas. -Eu não agüento mais! Sempre repetia, era o que a mantinha viva, a pena daquela pobre criatura que enfrentava sozinha a porra da vida que lhe jogaram, autolamentado-se,bem mais de uma vez, frente ao espelho, onde podia ver a pobre moça.O respeito! Cadê o respeito? Com “gritos” não existia idéias, com eles era pura imaginação, que alguns chamavam de esperança, coisas naquela situação só poderiam piorar. Negativista! Falava seu guru pessoal, como uma pessoa pode ser tão triste tendo uma vida sem fome, com casa e “emprego”, era impossível para o guru, a vida se resumia em suas misérias, que para ele era a coisa mais importante... Utilizava de todo o tempo que poderia obter para suas épicas tristezas, que para ela era uma bobagem qualquer que seu inteligente guru havia se metido, mas ouvia tudo compenetradamente e depois debochava, porque suas penas eram as maiores, na disputa ela ganhava sua tristeza não podia competir com nenhuma outra. Naquela noite com o aquele primeiro feixe de luz, com mais uma falta de gozo, sentada em seu escuro, ela começou a gritar, o “gritos” assustado chorou até se calar, perder a voz, ficar rouco, morrer. Ela não pode mais suportar gritar, ria chorava e mijava naquele chão imundo, se jogava merda, dançando sua valsa imaginária como madame Bovary . Então sentiu a morte, a falta, se jogou, sua dependência ficou clara, e pela primeira vez morta, pensou em algo que não era o “gritos”.

Um comentário:

  1. Uma mistura de asco com curiosidade. adorei esse texto, adoro o uso de vocabulário decadente nas obras.
    ah! eu adorei o teu blog! tão legal que tenhas um blog tbm!
    bora sair sábado? eu tu e camila. falei com ela um dia desses perdo do yamada plaza. planejamos de nos ver sábado, bora?

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